Loures, sede de concelho, cidade desde 9 de agosto de 1990, localiza-se no “coração” do território concelhio. Centro político-administrativo por excelência ainda com características rurais e significativa atividade agrícola, apresenta contudo uma concentração de atividades comerciais e de serviços, que lhe confere a importância e o estatuto de primeira cidade do concelho.
A cidade de Loures apresenta um núcleo urbano central e histórico que mantém ainda parte das suas características arquitetónicas, onde se encontram os Paços do Concelho, o Palácio da Justiça e a Igreja Matriz e se desenvolve o conjunto de atividades socioeconómicas que dão expressão à urbe.
A Freguesia dispõe de um conjunto significativo de equipamentos de utilização coletiva, dos quais se destacam o Jardim Municipal, o Parque da Cidade, as Piscinas Municipais, o Pavilhão Paz e Amizade e a Biblioteca José Saramago, além de outros serviços fundamentais, nas áreas da saúde, de ensino, de justiça, de protecção civil e da segurança pública. A Freguesia de Loures tem uma área de 32,82 quilómetros quadrados e 26 mil e 679 habitantes
História
Segundo Mendes Leal, Loures foi povoação romana ainda no tempo de Cristo. Apresenta em abono da sua afirmação, o facto de ter existido um cemitério no local onde hoje se ergue a Igreja Matriz. É do conhecimento geral que os cristãos perseguidos procuravam lugares recônditos e de difícil acesso para prestarem culto aos seus mortos, evitando dar a conhecer as suas crenças, a fim de escaparem às perseguições das autoridades romanas. Sem recusarmos a tese de Mendes Leal, poderemos acrescentar mais uma razão para que Loures já existisse durante o domínio romano na Península Ibérica. A civilização Castreja, que lhe é anterior, está presente em vários outeiros da região. Foi sob a influência dos romanos que os povos indígenas se decidiram a ocupar os terrenos baixos, por serem mais produtivos. Razões defensivas os atraíram aos montes. Razões económicas os fizeram descer.
Tendo Loures um solo tão fértil, não é de estranhar que os romanos tenham forçado algumas tribos locais a cultivá-lo. As razões de ordem religiosa, embora expliquem muitos factos, não explicam tudo. Parece-nos que devemos ter em conta igualmente, as questões de sobrevivência. Depois dos romanos, aqui se teriam instalado os visigodos, um dos primeiros povos bárbaros a romper as barreiras que defendiam o Império Romano e a instalar-se dentro dos seus territórios. Após estes, no século VIII, chegaram os árabes. Segundo o autor acima citado, o Rei D. Sancho I, em 1178, verificando que os mouros de Lisboa submetidos ao domínio cristão por el-rei D. Afonso Henriques em 1147, se aliavam com os das cercanias, entre os quais, os de Loures, veio combatê-los aos locais onde residiam, com o auxílio dos Templários. Em recompensa dos serviços prestados, essas terras foram entregues à referida Ordem, e aqui estabeleceram os monges-guerreiros, em 1178, o seu vigésimo oitavo mestrado.
Pelo menos assim o entendeu o Rei de França, Filipe, o Belo, que tudo fez junto da Cúria Romana para que esta Ordem fosse extinta, o que de facto aconteceu em 1311. O Papa entendia que os bens destes monges eram propriedade da Igreja, e sendo assim, Portugal e todos os países onde eles os possuíssem, seriam altamente lesados. O Rei D. Dinis, que a esse tempo reinava, acrescentando às suas reconhecidas capacidades de bom administrador, grandes dotes de diplomata, encontrou uma forma airosa de impedir a saída desses bens, sem entrar em conflito com o Papado. Propôs a este a criação de uma nova Ordem em Portugal, à qual fossem entregues todos os bens dos Templários. A proposta foi aceite e assim nasceu a Ordem de Cristo, que passou a ser proprietária das terras de Loures. Não se estranhe, portanto, que no século XIV se passe a falar desta, deixando de fazer referência à anterior. Não esqueçamos contudo, que foram os primeiros que edificaram a Igreja sobre as ruínas de outra, que dataria do século IV d.c., erguida junto ao cemitério pelos cristãos, e que ainda devia existir quando se verificou a invasão árabe.
Uma das obrigações assumidas pelos Templários era a reedificação de Igrejas cristãs, em locais onde se provasse que tinham existido. Isto vem reforçar a ideia da existência de um templo naquele local, anterior ao século XII. Junto à igreja construíram também casas destinadas a cartório e moradias para os sacerdotes. Este lugar de culto sofreu várias reedificações, sendo a primeira a construção da nova torre, iniciada em 1620 e prevendo já a ampliação do templo, cujas obras começaram em 1695 e terminaram em 1781. As receitas obtiveram-se dos dízimos da comenda de Cristo e das dádivas do povo da freguesia. É esse templo que o convidamos a observar connosco. O exterior é simples e não revela a estrutura interior. A porta principal está ladeada por duas estreitas pilastras e encimada por um frontão triangular. Sobre este, rasga-se uma grande janela e de cada lado, uma fresta de altura um pouco inferior. No vértice, sobre a janela, um pequeno óculo. Todas estas aberturas estão emolduradas com pedra lióz. Rematam os dois beirais da cimalha, graciosos coruchéus. Um pouco recuada e do lado esquerdo, ergue-se a torre de base quadrada, elevando-se bastante acima do corpo da Igreja e tendo no andar superior quatro seteiras, abertas nas quatro faces, para os sinos. O interior é de três naves, ligando-se a central às laterais por cinco arcos de volta perfeita, assentes em grossas e pesadas colunas toscanas, com pinturas do século XVII.
O tecto é uma abóbada de berço, ostentando igualmente pinturas seiscentistas. A riqueza decorativa de toda a igreja é notável, acentuando-se na capela-mor. O retábulo de talha dourada sobe até à cornija, ocupando toda a largura da cabeceira. Alguns pormenores de grande beleza chamam a atenção do observador – o sacrário esférico, as colunas torsas e os atlantes que servem de mísulas.O revestimento da superfície inferior das paredes é feito com mármores embutidos, de várias cores, de belo efeito decorativo, obra executada pelo Manuel Francisco Botelho em 1760.
Dignos de menção ainda, dois altares colaterais, anteriores à reconstrução e nos quais se conservam pinturas em madeira, de princípios do século XVII, recentemente restauradas no Instituto José Figueiredo. Além destes, há ainda dois altares cavados nas paredes das naves laterais, onde existem retábulos pintados. O coro é de madeira policromada, com um tecto de caixotões do século XVII.
Em 1625 fundou-se a confraria de Nossa Senhora da Saúde e os seus membros mandaram revestir seguidamente o corpo da nave.
Em 1700 foi melhorada com tribuna de talha dourada.Exteriormente tem um traçado simples, apenas enriquecido pelo acolhedor alpendre, sustentado por pilares quadrados nas extremidades e duas colunas toscanas entre estes.
A tradição manteve viva, por várias gerações , a fama da protecção da Senhora da Saúde aos que a ela recorriam. Por isso todos os anos, no mês de Setembro, ali se faziam romarias, havendo uma primeira festa da iniciativa dos romeiros vindos de Lisboa, seguida de uma outra promovida pelos habitantes de Loures.
Já no século XIX, entre 1832 e 1834, a cólera morbus motivou o reavivar do culto a esta imagem seiscentista. O medo que o povo sentiu quando esta epidemia foi tal, que pediram a vinda da imagem de Montemor para a igreja de Loures, o que realmente se fez. Em procissão, devotadamente, o povo acompanhou o andor que transportou a milagrosa imagem até à igreja matriz, onde ficou exposta no altar, levantado no centro do templo, para que os devotos pudessem implorar a sua protecção. Só depois do flagelo passar é que regressou à sua ermida em Montemor.
A Casa do Adro é hoje propriedade do Município e nela estão instalados os serviços culturais, biblioteca, arquivo histórico, museu e serviço de informação. É uma casa seiscentista, constituída por três corpos dispostos em L. Tem um pátio onde se encontra uma nora e um pequeno terraço no qual se podem ver quatro colunas do belo mármore, tendo nas bases e nos capitéis várias figuras esculpidas. São obra do século XVI e teriam sido ali colocadas vindas de outro local, pois o edifício é dos dois séculos seguintes, visto que é formado por dois corpos, um do século XVII e outro do século XVIII, com um total de trinta dependências, em dois pisos.
No século XIX foi propriedade de Francisco Manuel Trigão de Aragão Mourato, ministro de D. João VI, que acrescentou algumas dependências. À freguesia de Loures pertencem outras povoações. Referir-nos-emos em primeiro lugar a Montemor, situado numa colina a 350 metros de altitude. Pela qualidade dos “ares” era um lugar muito procurado pelas “gentes” de Lisboa, sempre que a peste fazia devastações. Foi ela a origem da Capela da Senhora da Saúde.
No ano de 1598 desabou sobre a capital essa terrível epidemia, que no prazo de cinco anos alastrou por todo o país dizimando a população. Calcula-se em oitenta mil, o total das suas vítimas. Fugindo ao contágio, as pessoas dos grandes aglomerados urbanos fixavam residência no campo, de preferência em sítios elevados, por serem mais saudáveis.
As famílias que foram residir para Montemor levaram consigo uma imagem de Nossa Senhora, à qual prometeram levantar uma ermida se as defendesse da peste. Por ali ficaram alguns anos, até que a epidemia foi dada como extinta, o que se verificou em 1604. Como entre os ali refugiados não se verificou nenhum caso de doença, a promessa foi cumprida.
Todos contribuíram com a sua oferta, construindo-se então a ermida; a capela-mor foi logo revestida de azulejos.
Em A-dos-Cãos situa-se a Capela de Santo Amaro, de pequenas dimensões mas que apresenta uma galilé com colunas quinhentistas, cujas bases e capitéis são decoradas com elementos característicos do manuelino, com a particularidade de serem todas diferentes, o que nos leva a crer que teriam vindo de outro monumento. No interior existem painéis de azulejos do século XVIII, representando alguns passos da vida de Cristo.
A república no concelho de Loures, apesar de existir documentada por elementos à data, como a Acta da Declaração da República, a 4 de Outubro de 1910, continua ainda hoje a suscitar descobertas e acréscimos valiosos do que foram os primeiros tempos
da I República Democrática em Loures.
A contribuição de Loures para o êxito da república no país é um facto. Sendo um dos mais importantes centros de produção agrícola e industrial, trânsito de toneladas de produtos, pelo Trancão e por estradas e caminhos, com uma burguesia comercial em ascensão, mas sempre dependente da existência de resposta na questão dos transportes e comunicações, a República representava, para esta burguesia emergente, a possibilidade de participação na governação e a satisfação de condições para promover o desenvolvimento do concelho, recentemente criado (1886).
A implantação do Partido Republicano nas principais localidades
do concelho, e o trabalho desenvolvido pelos republicanos como personagens ativas no movimento associativo, religioso e comercial,
dava importância a este território, dentro da conjura e movimento revolucionário.
Em Loures houve uma efetiva tomada de poder a 4 de outubro, com ocupação dos paços do concelho, sem oposição de nenhum funcionário, sem ataques a padres, com a constituição de uma Junta Revolucionária, eleita no Centro Escolar Republicano, com a decisão de apresentar publicamente uma saudação e declaração da república ao povo que acompanhava o acontecimento.